A série histórica vai desde 2003, sendo que o ano com maior número de servidores da União exonerados por corrupção é 2018. Na época, a CGU promoveu a divulgação do levantamento, com entrevista coletiva do ministro da CGU, Wagner Rosário, que remeteu o alto número ao bom funcionamento dos mecanismos.
De lá para cá, os dados reduziram. Em 2019, foram 323 servidores expulsos; no ano seguinte, 343; e no ano passado, 256. Bolsonaro se elegeu com um discurso forte anticorrupção, mas teve que lidar com alguns fatos que contradizem a narrativa, como o fim da Operação Lava Jato. Ao comentar o assunto específico em outras ocasiões, o presidente afirmou que acabou com a operação "porque não tem mais corrupção no governo".
Cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Marco Antônio Carvalho Teixeira afirma que os dados de corrupção mostram que o governo Bolsonaro enfrenta os problemas que os outros conviveram. "É um governo que parece que não reconhece que manter ministros acusados de corrupção afeta o governo; que lida com um tema como se não fosse dele", avalia.
O professor cita o caso do secretário nacional de Justiça, Vicente Santini, que foi exonerado em janeiro de 2020 do cargo que ocupava como secretário-executivo da Casa Civil por ter usado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar à Índia, mas, em fevereiro do ano passado, foi nomeado para exercer o cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República. Posteriormente, foi remanejado para chefiar a Secretaria Nacional de Justiça.
"O governo poderia usar o caso para mostrar como exemplo de que houve mal uso de dinheiro público, mas que o servidor foi punido. Mas o governo readmitiu o servidor e o realocou. Naquilo que o governo pode fazer o exemplo não foi dado", afirma.
A analista da Consultoria de Risco Político Dharma Politics Raquel Borsoi ressalta que à medida em que um representante eleito afirma qualquer fato sobre o seu governo, ele se expõe, automaticamente, à validação desse fato. Considerando, então, os casos de corrupção identificados pela CGU, a analista avalia que "é bem possível que os casos sejam usados por adversários na campanha eleitoral deste ano para contraditar o discurso do presidente".
usado na campanha de 2018. E, se a gente for pensar em termos de resposta, considerando o padrão de comportamento, de discurso e as respostas do presidente, também é possível pensar que ele se esquive das acusações, altere o discurso, mas nunca assuma a realidade e a responsabilidade da sua gestão", pontua.
O sociólogo e cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Baía afirmou que a corrupção foi a pauta de 2018, amplamente usada para eleger Bolsonaro naquele ano e desqualificar os demais concorrentes. O cenário foi reforçado quando o presidente chamou o ex-juiz federal da Lava Jato Sergio Moro, atual pré-candidato na corrida presidencial, para assumir o posto de ministro da Justiça e Segurança Pública.
"No atual momento em que existe um grande pactos do governo Bolsoanto com todas as forças tradicionais, chamadas de Centrão", ressalta. O professor avalia que essas "forças tradicionais" foram negligentes no mecanismo de controle do dinheiro público. "O combate à corrupção foi uma das principais marcas da campanha de Bolsonaro. Isso tudo (cenário político e dados de servidores expulsos por corrupção) torna o governo Bolsonaro semelhante aos que passaram pela república brasileira", relata
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