01/12/2021

Quando o liberalismo do NOVO e do MBL é negociável

Os expoentes da direita menchevique adoram criticar o presidente Bolsonaro com a repetição das mesmas groselhas de sempre. Elas são inumeráveis e geralmente desconectadas do mundo real. A mais corriqueira delas é a que ele traiu pautas historicamente defendidas e mudou completamente depois de chegar à presidência da República.

De fato, o presidente Bolsonaro mudou em alguns quesitos. Se antes a retórica lavajatista era parte importante da sua plataforma, hoje ele se afastou completamente dela e de seus ardorosos defensores. Isso não é algo ruim: a Lava Jato abriu uma Caixa de Pandora no Judiciário brasileiro, precedente utilizado nos supremos inquéritos persecutórios. Em nome do combate à corrupção e ao crime, vale tudo, até mesmo cometer inúmeras ilegalidades e jogar o devido processo legal no lixo.

Sua relação com o liberalismo econômico sempre foi conflitante, com algumas iniciativas que me desapontaram pessoalmente. É aqui que os liberais costumam atacá-lo. Dizem que Bolsonaro utilizou a plataforma liberal com fins puramente eleitoreiros. Esquecem convenientemente que os princípios liberais foram desprezados por eles próprios para alimentar o antibolsonarismo juvenil – e os exemplos não são poucos.

O liberalismo brasileiro é essencialmente direitista pela ênfase maior na defesa da economia de mercado, nas privatizações e na menor interferência possível do Estado no campo econômico. Quando se pensa no melhor que o liberalismo já teve em solo tupiniquim, o nome do saudoso Roberto Campos é uma lembrança automática. Ele é um símbolo, uma luz nas trevas estatizantes tipicamente brasileiras – e latino-americanas também – por sua defesa eloquente do capitalismo de livre iniciativa.

Qualquer liberal deve – ou deveria – ter ojeriza ao dirigismo estatal, e por consequência abraçar as iniciativas que tirem as garras governamentais da economia. O sr. João Amoêdo, cacique do Partido Novo, surgiu na política defendendo precisamente isso. Mas ele deixou de lado o liberalismo econômico para criticar a redução do ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) proposta pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com o objetivo de diminuir o preço dos combustíveis. O motivo alegado foi a perda de arrecadação de estados e municípios com a iniciativa, além do não uso dos R$ 24 bilhões perdidos pelos entes federativos para ajudar os mais necessitados.

Conversa para boi dormir. Amoêdo criticou a medida não pelos motivos alegados, mas por uma única razão: ela foi proposta por Arthur Lira, que chegou à presidência da Câmara com o apoio do presidente Bolsonaro. Ou seja, se tal medida tem as digitais de Bolsonaro, automaticamente ela é ruim, mesmo que esteja de acordo com a plataforma liberal. É o antibolsonarismo infantil elevado à enésima potência.

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