14/12/2020

Plano de vacinação temuma solidez de gelatina

Josias de Souza

Ao retardar a elaboração de um plano de vacinação contra a Covid-19, Jair Bolsonaro revelou-se intelectualmente lento. Ao elaborar um plano em cima do joelho, para cumprir um ultimato do ministro Ricardo Lewandowiski, do Supremo Tribunal Federal, o governo Bolsonaro mostrou-se eticamente ligeiro. As duas velocidades são insultuosas. A lentidão intelectual do presidente ofende até o senso comum. Com a pandemia a pino, é inconcebível não fazer nada para apressar a obtenção do único remédio capaz de deter o vírus.

A ligeireza moral transforma em suco o lero lero segundo o qual o Brasil está “acima de tudo”. Fazer qualquer coisa em reação a uma intimação judicial reforça a convicção reforça a convicção de que o interesse nacional está abaixo das idiossincrasias presidenciais. Despejado sobre 193 páginas, o plano nacional para a vacinação da população contra a Covid-19 é impreciso, incompleto e insano. A imprecisão é escancarada na ausência de uma data para o início da imunização. A incompletude revela-se no reconhecimento de que faltam vacinas para todos. A insanidade é denunciada pela insistência em menosprezar uma vacina disponível no Butantan. Alega-se que a definição da data para o início da vacinação depende da liberação de uma vacina pela Anvisa.

Não é uma boa explicação. Mas é uma ótima confissão. O governo está num mato sem vacina porque apostou suas melhores fichas no imunizante com selo de Oxford, que tropeçou na fase de testes. O planejamento oficial estima que a União terá 108 milhões de doses de vacina para imunizar os brasileiros dos grupos prioritários no primeiro semestre. Considerando-se as perdas e a necessidade de aplicar duas doses, serão vacinadas 51,4 milhões de pessoas. É pouco, muito pouco, pouquíssimo. Há nesta terra de palmeiras algo como 212 milhões de habitantes.

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